quinta-feira, março 01, 2012

Entrevista: Tudo que os adolescentes gostam de fazer com a tecnologia acaba sendo proibido na escola, critica professor

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Para falar de educação e tecnologia, o Observatório entrevistou o professor do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luciano Meira, que é um dos criadores das Olimpíadas de Jogos Digitais e Educação (OJE). 

A OJE é um projeto da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco que consiste em uma rede com jogos que tentam estimular a convivência entre alunos e professores, e despertar o interesse pelas matérias curriculares. Também é colaborador da Joy Street, consórcio que administra a OJE.

Observatório da Educação - Qual a importância de tecnologia nas escolas?

Luciano Meira -
A pergunta é interessante porque em geral simplesmente nas escolas as TIs não chegam à sala de aula, elas estão confinadas em laboratórios de informática. A importância de ter tecnologia na sala de aula propriamente dita é porque isso daria outro tipo de dinâmica a práticas didáticas.
Poderíamos alterar o sistema de autoria e voz. Hoje você tem sistema didático que só o professor tem voz, professor só repete. Redes sociais podem girar a informação de tal maneira que todos seriam capaz de autorar conhecimento qualquer. As tecnologias na sala de aula poderiam dar sustentação para processos diferenciados, autorias, e voz, distribuir conhecimentos ao longo da cadeia educação não unifocal como hoje, desprovido de autoria.

Observatório - Pode dar algum exemplo?

Meira -
Digamos que um professor ponha a aula no Facebook. Gestor, professores, alunos, imediatamente têm acesso. O que aconteceria é o que apareceria na linha de tempo de todo mundo. O que chamávamos de conversa paralela, aparentemente não tão focada no tema da aula, começaria a aparecer para todos e não só para um grupo restrito.

Em uma pesquisa, a gente já gravou o que eram as conversas, a natureza delas, a maioria dizia respeito à estrutura do ensino. Não é paralela, o cara está conversando sobre a escola, ou fazendo perguntas paro colega sobre o assunto. Essa conversa paralela no sistema tradicional não é tão paralela, e ganharia visibilidade.

Observatório - Como acontece hoje o contato dos alunos com tecnologia, nas escolas?

Meira -
Nas escolas públicas, os jovens e crianças da classe C têm acesso surpreendente à cultura digital. Fizemos pesquisa nas escolas e é comum em escola pública jovens com smartphones, “xing ling”, e um plano de dados desses acessos à internet. Muitos jovens têm isso, e acesso em casa também. Tanto é que número de lan houses está diminuindo no país. A classe C tem acesso a computador, notebook, acesso à internet doméstica tem aumentado, elas chegam às escolas já num nível de artefatos e formas de acesso que a escola, por não saber o que fazer, tende a proibir. Tem escola que reserva ao laboratório de informática esse acesso de forma muito tosca. Muitas vezes quase a totalidade das coisas da cultura digital que esses jovens gostariam de acessar e poderiam é proibido. Instant Messenger, redes sociais, álbuns de fotografia: todos proibidos. Jogos. Tudo que eles gostam de fazer fora da escola é proibido dentro.

Temos olimpíada de jogos digitais e educação, gincana de videogame, com mecânica clássica dos jogos divertidos, rede social, e permitido dentro da escola, por ser um projeto da Secretaria de Educação. Usando as coisas que os meninos gostam dentro da escola e fazer com que eles se interessem mais em conteúdos da escola e assim por diante.

Observatório – O que acha das atuais aulas de informática?

Meira -
Tem tarefas que o professor pede para serem resolvidas, mas a forma como isso é feito é deslocada dos processos da sala de aula. O cara tem que ir pro laboratório e fazer pesquisas desinteressantes, que não usam o que os meninos gostam. Existe um divórcio entre o que as crianças e jovens já sabem fazer e a escola. A escola dispensa conhecimento, não entende que ela deve oferecer aos jovens ensinamento. Jovens têm conhecimento pragmático interessante de como trocar informações, construir coisas. As escolas não se dão conta, não aproveitam.

Observatório - A tecnologia não distrairia os alunos na aula?

Meira -
Não acho, não. Os jovens as crianças já estão imersas num mundo de cultura digitais, serviços digitais, então isso já é parte da vida delas, não ha como tirar delas, parte da cultura; a escola tenta, mas não consegue deslocar as crianças do mundo delas. E qual o efeito disso: quando você quer ensinar algo a alguém, você tem que ver o que o outro já sabe. Lei básica da teoria da aprendizagem.

Em média 50% dos jovens que deveriam concluir ensino básico na idade adequada não concluem. Ou abandonam ou concluem fora do tempo. Desses, 40%, deixam a escola por desinteresse. A escola não captura em mais nada essas pessoas. A gente sabe que os jovens estão jogando. Umas das formas de capturar imaginário, prazer, imaginário dessas pessoas é justamente com coisas que eles sabem fazer. E uma delas é entrar em redes sociais, se comunicar, jogar online.

Observatório - Qual seria o ambiente tecnológico ideal para os alunos?

Meira -
Temos que aproveitar o que já sabem fazer. Seria interessante ambientes de redes sociais, jogos online, comunicação, todos voltados pra promover o contato do aluno como professor. Isso não substitui em absoluta o contato, a vinculação. Seria forma de vincular melhor. Chamamos de jogos conversacionais para disparar diálogo, não substituir. Melhores ambientes são aqueles que crianças já aprendem coisas. Jogando jogos na internet, se comunicando, usando instant messenger, ciosas dessa natureza?

Observatório - E os professores?

Meira -
Muitos professores por sua própria natureza não vão entrar na cultura digital, e eles vão ser úteis também, podem continuar contribuindo se construirmos ambiente de aprendizagem onde curiosidade do aluno seja acolhida pelo professor. O aluno está jogando um jogo sobre biologia, e o professor sabe sobre biologia.  Em um jogo que você tenha que atacar um vírus, o conhecimento do professor sobre os vírus que atacam o ser humano são úteis. O professor não precisa saber jogar, precisa saber História, precisa saber acolher esse aluno. Acolher a curiosidade do aluno. Estou falando dos bons professores. Veja a seguinte revolução - daqui a vinte anos, esse professor não é gamer, ele estará se aposentando. Adivinha quem vão ser os professores? Os gamers que usam todos os artefatos. Esses já estarão totalmente dentro da cultura digital. Aí que não vai dar para afastá-las [TIs] da escola, mesmo. 

Observatório - Tecnologia é apenas uma forma, ou um conteúdo para o qual os alunos devem atentar?

Meira -
Os alunos não estão interessados sobre quão cool é um equipamento. O que eles querem é conversar, trocar ideia, é marcar de se encontrar. Isso já dá ideia para você que não é o cara que tem o melhor equipamento, é o cara que sabe usar de forma a agregar. A se conectar com o outro e assim por diante

Observatório - O que você acha das recentes compras de novas tecnologias, como tablets, por parte dos governos? 

Meira -
Acho adequado. Essas coisas já deveriam estar na escola. Devem estar acompanhadas, óbvio, com formas de uso, plataformas que sejam úteis na educação, senão ficarão trancadas numa sala. O governo deve espalhar tablet e banda larga nos país, não tenho a menor dúvida. Agora, infelizmente a gente sabe que toda vez que isso é feito um número considerável dessas coisas é roubado, ou desviado, porque raramente é acompanhado de programas de uso desses negócios, que efetivamente coloquem essas coisas em uso.

Observatório - E outras inovações que podem ser potencializadas com a internet, como a horizontalidade, a participação democrática, a gestão democrática, transparente... a tecnologia pode ajudar nisso, ou esses aspectos ficarão à margem?

Meira -
Acho que não vai acontecer só porque a internet tem essa característica, este modo de arranjo social. Mas tomara que seja uma influência forte. A forma de autoria dentro da escola é completamente ultrapassada, anacrônica. Não é à toa porque nenhum jovem gosta de frequentar ambiente de escola. A gente espera sim que outros modos comunicativos sobre qual a internet esta sendo construída possa influenciar sistemas de educação. Isso não vai acontecer por osmose.

 Fonte: http://www.observatoriodaeducacao.org.br

1 comentários:

cley disse...

Muito Bom a Postagem eu creio que assim como me ajudou irá tanbém ajudar varios outros Adolescentes..

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